ABORDAGENS ENFOCADAS PELO AUTOR
1. Das razões da elaboração do texto
Qualquer pessoa tem o direito de escrever um livro, desde que aceite o compromisso de se fazer entender. Se os propósitos da literatura devem ser sempre uma “expedição em direção à verdade”, porque não enfocar a questão dos “valores” com objetividade, ecletismo, clareza e seriedade de propósitos?
Haveremos de considerar que, como ocorre nos conteúdos imediatos de qualquer objetivo humano, também o valor literário está presente, como um “produto do manifestar-se” (desde que em prol da criação da capacidade apreciativa da consciência).
É impossível abordar o tema dos “valores humanos” (desempenhados no processo vital) sem considerar as escolhas pessoais que resultam das decisões da vontade e das preferências do gosto. E se a proposta de abordar o tema é tentadora, porque não procurar dar maior ênfase à “beleza que há em tudo” e ao “prazer que pode decorrer de tudo”?
Ora, o exercício construtivo de compartilhar conhecimentos sobre experiências vividas muito contribui, positivamente, para a estruturação de uma razoável “concepção da vida”, de uma atualizada “visão do mundo” e de uma correta “leitura da realidade” (como bem o disse o grande filósofo austríaco Wittgenstein, “os limites de minha linguagem são também os limites do meu pensamento”).
No entanto, haverão de surgir dificuldades de expressar idéias e propor reflexões filosóficas diante dos atuais estágios de nossa malbaratada “identidade nacional”, que anda meio confusa: por desgraça do discurso demagógico dos governos, das mentiras das ideologias políticas, da frouxidão de caráter do neoliberalismo, da corrupção desenfreada do capitalismo, da apatia cívica dos cidadãos (eleitores, contribuintes e consumidores) e do conformismo político do povo, o Brasil vem se consolidando como um eterno “país do faz-de-conta”.
Costumamos chamar nosso país, eufemisticamente, de “o país do futuro”, “o país das energias renováveis” ou “um gigante pela própria natureza” (mas os povos mais civilizados sempre nos vêem como “o bananão da América Latina”). Entre as mentalidades mais realistas, estão sempre a ecoar verdades conceituais que, além de ironizarem nossas origens, insistem em afirmar que somos “um país incrível” (em que até o passado é imprevisível) e que, em matéria de costumes, somos um “país muito estranho” (onde prostituta tem orgasmo, cafetão sente ciúmes, traficante é viciado, pobre é “de direita” e os políticos mais sacanas são recolocados no poder).
Em sendo assim, como orientar a busca de “posicionamentos existenciais” num país avacalhado e avacalhador, cujo povo é caracterizado pelo imobilismo, pela descrença e pela “razão cínica”, ou num país onde a luta interna mais equilibrada é a da corrupção organizada contra o crime desorganizado?
Apesar de tudo, vemo-nos hoje inseridos na cultura mundial, graças à invasão da tecnologia e do avançado universo de informações que possibilita a atualização de novos conhecimentos. Mas, nada tem sido capaz de embasar nossos posicionamentos existenciais ou orientar nosso comportamento, justamente quando mais precisamos combinar as melhores idéias do “pensar dominante” com as boas emoções do “sentir dominante”.
Em busca de uma boa “orientação no mundo”, haveremos de considerar as questões que envolvem a objetividade (a visão responsável que caracteriza pensamentos cuja validade contribui para a universalidade dos espíritos) e a subjetividade (capacidade de pensar apenas pela mente sintonizada com os aspectos sensíveis do ser).
Enquanto a objetividade representa a “tendência de julgar pelos fatos” (sem se deixar influenciar por sentimentos), a subjetividade compreende a “tendência de julgar tudo somente pelos próprios sentimentos”, especialmente as prevenções ou predileções que os fatos inspiram (mas, gerando condicionamentos psíquicos profundos, que levam à aceitação de modelos impostos, ao empenho à repetição das ações e ao retorno do coração às mesmas coisas de sempre).
Acontece que, em seus propósitos de “manter as coisas como estão” (para garantir a governabilidade e potencializar o mercado), a mídia dos “sistemas de poder” investem investe mais em apelos à subjetividade das pessoas, para que elas passem a falar, a gostar, a pensar e a agir de acordo com o programa do sistema em vigor. Tudo é orquestrado no tom de conceitos existencialistas que insinuam que “vale a pena ir contra a objetividade”, pois, se a vida implica engajamento e risco, o existir passaria a ser “escolher e apaixonar-se!”.
No entanto, para quem assume os compromissos da evolução (proposta básica da Natureza), torna-se recomendável ordenar o pensamento, organizar as idéias e desenvolver a inteligência (em prol de ações objetivas e éticas na realização de grandes feitos positivos) e, também, manter acesa a sensibilidade para alimentar a “criatividade” (em prol da aplicação da “inteligência sensível” na busca da felicidade concreta). Afinal, só evolui quem consegue resolver seus próprios problemas!
Como sabemos, a realidade costuma mostrar que a vida é espontânea, aleatória, arbitrária e, muitas vezes injusta. Por conseqüência do contínuo projeto vital, o ser humano é inacabado, inconcluso e imperfeito. E parece não haver solução, pois a vida é assim mesmo: insiste em mostrar que não aceita controle!
Por isso, para ultrapassar a razão, precisamos abrir a mente e desenvolver as aptidões intelectuais, de modo a compor a inteligência que, combinada com as potencialidades da sensibilidade, é capaz de gerar a tão pretendida sabedoria (para que a consciência seja capaz de orientar o espírito como fator preponderante da busca da felicidade concreta). O problema é que a vida só nos dá a sabedoria depois de nos roubar a juventude!
A personalidade é uma qualidade integrada por todas nossas categorias cognitivas, afetivas, volitivas e físicas (algo muito importante para a determinação dos nossos ajustes sociais). Conceitualmente, ela representa a síntese dramática de cada um de nós: a forma de ajustamento de impulsos, dos desejos e dos propósitos individuais ao equipamento cultural. Por compreender a “organização dos sistemas psicofísicos que determinam nossos ajustamentos ao meio”, ela constitui a “individualidade consciente”, caracterizada por três atributos: a interioridade, a liberdade e a unicidade.
Nossa personalidade é estruturada em seis importantes pilares: o temperamento (característica inata, que define a índole e compõe os traços psicofisiológicos), o caráter (característica adquirida, construída na lida do cotidiano, e que tipifica a conduta moral), as aptidões intelectuais (o conjunto das faculdades de pensar, de raciocinar, de entender e de interpretar, como frutos da inteligência), a expressão artística (técnica de usar, objetivamente, a capacidade intelectual, ou a habilidade talentosa para gerar a própria imagem na apresentação do seu “equipamento cultural”), o comportamento (o modo de portar a conduta e os procedimentos morais em face do meio social) e as tendências doentias (ameaças constantes que precisam ser bem policiadas).